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Antidepressivos na Gestação

Escrito por Jader Burtet

Muitas gestantes apresentam doenças psiquiátricas e fazem uso de antidepressivos, principalmente dos inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs). Esses agentes atravessam a barreira placentária e podem ser associados a potenciais riscos de teratogenicidade e desfechos adversos, como abortamento ou hemorragia pós-parto. 

Os inibidores de serotonina e norepinefrina (duais), como duloxetina e venlafaxina, aparentemente não possuem um risco elevado de malformações congênitas. A qualidade dos estudos é de baixa a moderada, devido aos limites éticos e tamanho de amostra. Assim, o que se sabe é que não há associação clara entre o uso desses fármacos e abortamento espontâneo. Há, em alguns estudos, um possível aumento do risco de desordens hipertensivas nas gestantes, sendo que a venlafaxina possui um maior risco de pré-eclâmpsia quando comparada à duloxetina. Nas gestantes que fazem o uso dos duais no terceiro trimestre, há uma associação com hemorragia puerperal. 

Os antidepressivos atípicos, como a bupropiona e mirtazapina, possuem poucos estudos que associam essas drogas a efeitos teratogênicos. A bupropiona parece ter um risco levemente aumentado de anomalias cardíacas e abortamento espontâneo. A mirtazapina possui baixa associação com efeitos teratogênicos e abortamento, diferentemente da bupropiona. O que essa medicação pode ocasionar, em baixas proporções, é baixa adaptação neonatal, embora haja poucas evidências que sustentem esse fato. 

A trazodona, um modulador de serotonina utilizado em transtornos depressivos maiores, parece ter baixa associação com teratogenicidade e complicações na gestação. Os antidepressivos como amitriptilina, imipramina e nortriptilina também possuem pouco risco de malformações e desfechos maternos adversos. Os tricíclicos, no entanto, podem elevar o risco de desordens hipertensivas, principalmente a pré-eclâmpsia, podendo aumentar risco de hemorragia pós-parto. A clomipramina, entretanto, apresenta um risco maior de malformação grave, incluindo defeitos cardiovasculares. Esta classe pode apresentar, nos recém-nascidos, síndrome de abstinência transitória, como hipoglicemia, icterícia ou irritabilidade. 

Em estudos em animais, os inibidores da MAO — como isocarboxazida, moclobemida, fenelzina, selegilina e tranilcipromina — apresentaram um risco aumentado de restrição do crescimento fetal.

Já os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) — como citalopram, escitalopram, fluoxetina, paroxetina e sertralina — são amplamente estudados, devido ao seu uso mais amplo em relação às demais medicações mencionadas. Essa classe medicamentosa não possui associação com anomalias congênitas, mas alguns estudos apresentaram uma fraca associação com defeitos cardiovasculares leves. Os ISRSs possuem pouco ou nenhum efeito no risco de abortamento espontâneo, mas possuem um pequeno risco nos distúrbios hipertensivos da gestação, prematuridade e hemorragia pós-parto. A hemorragia pós-parto em pacientes com doenças psiquiátricas parece, por si só, ser maior em relação a pacientes hígidas. Logo, esta associação é controversa e sabe-se que o risco é diminuído quando o uso das medicações são suspensas com 30 dias de antecedência. O risco da prematuridade parece estar relacionado ao momento da exposição, tendo maior risco quando inseridos no terceiro trimestre. Em relação à diabete gestacional, não parece ser fator de risco. Não há consistência de estudos a respeito da relação entre o APGAR e a restrição de crescimento fetal. No que diz respeito à mortalidade perinatal, não são consideradas drogas que aumentem o risco. 

No tocante aos ISRS, não há um que seja mais seguro que outro; exceto pela paroxetina, uma vez que essa droga parece ter uma associação maior com risco de malformação cardiovascular congênita. Quando inserida no terceiro trimestre, essa classe medicamentosa pode ocasionar síndrome neonatal transitória, que consiste em dificuldade respiratória, irritabilidade, letargia e tremores, uma condição autolimitada. 

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