Diagnóstico Gestação Tratamento

Endometrioma – estratégia cirúrgica

Entre as massas anexiais, o endometrioma possui a particularidade de ser derivado de tecido ectópico endometrial no ovário e é uma das formas da manifestação da endometriose. Sua presença constitui marcador de endometriose profunda, podendo ser assintomática ou sintomática com dores pélvicas crônicas e infertilidade. Deste modo, o tratamento dessa massa anexial deve ser pautado pelo alívio dos sintomas, exclusão de malignidade (quando há dúvidas) e/ou melhora da fertilidade. 

Além de apresentar a vantagem de diagnóstico definitivo da patologia da massa anexial, a abordagem cirúrgica promove uma melhora nos sintomas álgicos. A sua desvantagem, porém, consiste no risco cirúrgico inerente ao procedimento, além da possível diminuição de reserva ovariana. 

Entre as possibilidades cirúrgicas, a ooforoplastia, ou cistectomia, consiste na abordagem conservadora do ovário, abordando apenas o cisto e mantendo o tecido ovariano. Nesta cirurgia, a preferência é que seja realizada por uma via minimamente invasiva (laparoscopia ou robótica), mas o risco de conversão para laparotomia deve ser informada à paciente, pois pode ocorrer em até 5% dos procedimentos. Além disso, a cirurgia pode promover o tratamento de outros focos de endometriose e, em casos selecionados, optar por biópsia de congelação no transoperatório quando há suspeita de malignidade. Após o procedimento, é importante a prevenção da recidiva do endometrioma administrando progestogênio ou, se indicado, contraceptivo combinado. 

Outras técnicas cirúrgicas consistem em aspiração do cisto, porém, a sua realização está associada a altas taxas de recorrência em até 6 meses. A incisão da cápsula do endometrioma associada à ablação realizada com vaporização à laser ou coagulação também pode ser performada, entretanto, quando comparada à ooforoplastia, se mostrou menos eficaz tanto para a redução da dor quanto na melhora da infertilidade. Essa técnica, apesar disso, mostrou ter menor impacto na reserva ovariana. 

A escleroterapia ovariana pode ser uma alternativa em pacientes que serão submetidas à captura em ciclos para realização de Fertilização In Vitro (FIV). Embora essa técnica possua alta recorrência, é importante na redução do volume do endometrioma, o que é vantajoso na reprodução assistida. 

Assim, a ooforoplastia também pode ser realizada de diversas maneiras, bem como a escolha do agente hemostático no leito ovariano. Para a retirada do cisto, pode ser utilizada a técnica “stripping”, que consiste na remoção do cisto com dissecção circular ao redor dele. O stripping, no entanto, remove menos folículos ovarianos, já que a cápsula do endometrioma pode invadir até 1,5 mm em parênquima ovariano. 

A coagulação do leito ovariano, realizada por sutura ou por agentes hemostáticos, pode melhorar o impacto da reserva ovariana. Esse impacto é visto ao haver dosagem do hormônio anti-mülleriano no pós-operatório, quando comparado esses agentes hemostáticos com a energia bipolar. Assim, há um consenso para o uso racional desse tipo de energia em cirurgias conservadoras do ovário. O uso de celulose (Oxidized Regenerated) pode diminuir o sangramento no sítio cirúrgico, além de promover menor chance de recidiva e possuir pouco impacto nos níveis de Dosagem do Hormônio Anti-mülleriano (AMH). 

Caso seja observado, durante a ooforoplastia, outros cistos anexiais (hemorrágico ou folicular) — que são achados comuns —, e a ooforoplastia seja difícil ou com difícil controle da hemostasia, pode-se optar por manter esses cistos com o objetivo de preservar folículos ovarianos. 

Assim, embora a ooforectomia constitua um tratamento definitivo, em mulheres abaixo de 50 anos, quando realizada bilateralmente, pode aumentar mortalidade por doenças cardiovascular, em virtude da queda hormonal abrupta. Logo, a decisão pela remoção ovariana deve ser realizada de modo individual e deve levar em consideração o risco de recidiva, sintomas relacionados e sequelas pela diminuição hormonal. Está indicada quando a paciente possui recorrência de cistos, pós-menopausa ou risco aumentado de malignidade. Porém, mesmo nas formas de endometriomas recorrentes, uma abordagem conservadora pode ser oferecida. 

Quando realizada unilateralmente, a ooforectomia possui um impacto incerto na resposta hormonal da paciente. Já a bilateral, promove uma perda completa da produção hormonal ovariana. 

Contudo, devido à endometriose, o endometrioma pode acometer toda a fosseta ovariana, de modo que, para ser abordado, em alguns casos, é necessária a abertura dos espaços pararretais e a dissecção do ureter em sua extensão, caracterizando uma cirurgia avançada. 

No pós-operatório, a estratégia deve considerar o desejo reprodutivo, a extensão da endometriose observada na cirurgia, idade e risco de recorrência. Pacientes que desejam engravidar podem ser orientadas quanto ao risco e benefício da recidiva. 

Referências: 

CHIU, Chui-Ching et al. Maintenance Therapy for Preventing Endometrioma Recurrence after Endometriosis Resection Surgery – A Systematic Review and Network Meta-analysis. Journal of Minimally Invasive Gynecology, v. 29, n. 5, 2022, p. 602-612. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.jmig.2021.11.024. Acesso em: 16 out. 2023.

EUROPEAN SOCIETY OF HUMAN REPRODUCTION AND EMBRYOLOGY.  ESHRE Guideline EndometriosisEndometriosis Guideline of European Society of Human Reproduction and Embryology. 2022. Available atDisponível em: https://www.eshre.eu/Guidelines-and-Legal/Guidelines/Endometriosis-guideline. Acesso em: 16 out. 2023.

HART, Roger et al. Excisional surgery versus ablative surgery for ovarian endometriomata. Cochrane Database of Systematic Review, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1002/14651858.cd004992.pub3. Acesso em: 16 out. 2023.

MUZII, Ludovico et al. Histologic analysis of endometriomas: what the surgeon needs to know. Fertility and Sterility, v. 87, n. 2, Fertil Steril 2007, p.; 87: 362-366. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.fertnstert.2006.06.055. Acesso em: 16 out. 2023.

ORLANDO, Megan et al. Salpingo-oophorectomy or surveillance for ovarian endometrioma in asymptomatic premenopausal women: a cost-effectiveness analysis. American Journal of Obstetrics and Gynecology, v. 227, n. 2, 2022, p. 311.e1-311.e7Am J Obstet Gynecol 2022; 227:311.e1. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.ajog.2022.04.043. Acesso em: 16 out. 2023.

PRACTICE COMMITTEE OF THE AMERICAN SOCIETY FOR REPRODUCTIVE MEDICINE. Treatment of pelvic pain associated with endometriosis: a committee opinion. Fertility and Sterility, v. 101, n. 4, 2014, p.; 101: 927-935. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.fertnstert.2014.02.012. Acesso em: 16 out. 2023.

RAFFI, Francesca; METWALLY, Mostafa; AMER, Saad. The impact of excision of ovarian endometrioma on ovarian reserve: a systematic review and meta-analysis. The Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism, v. 97, n. 9, 2012,; 97:3146 p.3146-3154. Disponível em: https://doi.org/10.1210/jc.2012-1558. Acesso em: 16 out. 2023.

SOMIGLIANA, Edgardo et al. Surgical excision of endometriomas and ovarian reserve: a systematic review on serum antimüllerian hormone level modifications. Fertility and Sterility, v. 98, n. 6, Fertil Steril 2012; 98:, p. 1531-1538. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.fertnstert.2012.08.009. Acesso em: 16 out. 2023.

THE AMERICAN COLLEGE OF OBSTETRICIANS AND GYNECOLOGISTS. Practice bulletin no. 114: management of endometriosis. Obstetrics and Gynecology, v. 116, n. 1, 2010, p. 223-236. Disponível em: https://doi.org/10.1097/aog.0b013e3181e8b073. Acesso em: 16 out. 2023.Obstet Gynecol 2010; 116:223.

UNCU, Gurkan et al. Prospective assessment of the impact of endometriomas and their removal on ovarian reserve and determinants of the rate of decline in ovarian reserve. Human Reproduction, v. 28, n. 8, 2013, p. 2140–2145Hum Reprod 2013; 28:2140. Disponível em: https://doi.org/10.1093/humrep/det123. Acesso em: 16 out. 2023.

WATTANAYINGCHAROENCHAI, R. et al. Postoperative hormonal treatment for prevention of endometrioma recurrence after ovarian cystectomy: a systematic review and network meta-analysis. BJOG, v. 128, n. 1, 2021, p.; 128: 25-35. Disponível em: https://doi.org/10.1111/1471-0528.16366. Acesso em: 16 out. 2023.

Curso Pedpapers

Deixe um comentário

Sobre o autor

Patricia Rossi Peras

1 comentário

Deixe um comentário

Seja parceiro do GOPapers. Conheça os pacotes de anúncios e divulgações em nosso MídiaKit.

Anunciar no site