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Inseminação Intrauterina versus Fertilização In Vitro: quais as diferenças?

Escrito por Fabiano Serra

No panorama da medicina reprodutiva, a inseminação intrauterina (IIU) e a fertilização in vitro (FIV) emergem como dois pilares fundamentais, cada um com suas especificidades, indicações e taxas de sucesso. À medida que a demanda por tecnologias de reprodução assistida (TRA) cresce, a compreensão clara das diferenças entre essas duas técnicas torna-se crucial para orientar os casais de maneira adequada, baseando-se em evidências científicas e práticas clínicas robustas. 

Inseminação Intrauterina (IIU): baixa complexidade

A IIU é um procedimento de reprodução assistida menos invasivo, no qual os espermatozoides são lavados e concentrados e, após, diretamente inseridos no útero da mulher durante o período ovulatório, que pode ser sob estímulo para produção de mais folículos (o que é recomendado) ou não. Esta técnica é frequentemente indicada para casais com infertilidade de causa desconhecida, disfunção erétil ou infertilidade por fator masculino leve. A simplicidade e o custo mais baixo da IIU, comparada à FIV, tornam-na uma primeira linha de tratamento para muitos casais. Veja o passo a passo da IIU:

  1. Monitoramento da Ovulação

O primeiro passo na IIU é monitorar o ciclo menstrual da mulher para determinar o momento ótimo da ovulação. Isso pode ser feito através de kits de previsão de ovulação em casa, ultrassonografia transvaginal e/ou dosagem de hormônios no sangue. Na maioria dos casos, medicamentos gonadotróficos podem ser prescritos para estimular a ovulação e aumentar as chances de sucesso do procedimento.

  1. Preparação do Sêmen

Paralelamente ao monitoramento da ovulação, é coletada uma amostra de sêmen do parceiro ou de um doador no dia da inseminação. O sêmen passa por um processo de “lavagem” no laboratório, que concentra os espermatozoides mais móveis e saudáveis, removendo o plasma seminal e outras substâncias que possam interferir com a fertilização.

  1. Inseminação

O procedimento de inseminação é geralmente rápido e não requer anestesia. Utilizando um cateter fino e flexível, os espermatozoides preparados são inseridos diretamente no útero através do colo do útero. Este método minimiza a distância que os espermatozoides precisam percorrer para alcançar o óvulo, aumentando as chances de fertilização. O processo é geralmente indolor, embora algumas mulheres possam sentir desconforto leve ou cólicas.

  1. Após a Inseminação

Após a inseminação, a paciente pode ser aconselhada a permanecer deitada por um curto período, embora as evidências sobre a eficácia desta prática sejam mistas. Não são necessárias precauções especiais após o procedimento, e as mulheres podem geralmente retomar suas atividades normais imediatamente.

  1. Suporte à Fase Lútea

Semelhante ao processo de FIV, após a IIU, pode ser prescrita progesterona para apoiar o revestimento uterino e facilitar a implantação do embrião. A suplementação de progesterona é comumente administrada na forma de cápsulas intravaginais ou por via oral.

  1. Teste de Gravidez

Cerca de duas semanas após a inseminação, é realizado um teste de gravidez para determinar se o procedimento foi bem-sucedido. Em caso de resultado positivo, o acompanhamento inicial da gravidez é realizado com exames de sangue e ultrassonografias. Em caso de resultado negativo, podem ser discutidas com o casal as opções de repetir o procedimento de IIU ou considerar outras formas de tratamento para a infertilidade.

Fertilização In Vitro (FIV): Uma Abordagem Avançada

A FIV, por outro lado, é uma técnica mais complexa e invasiva, que envolve a extração de oócitos da mulher e sua fertilização com espermatozoides em laboratório. Após a fertilização, os embriões são transferidos para o útero. A FIV é particularmente indicada em casos de tubas uterinos impérvias ou danificadas, infertilidade por fator masculino grave, falha em conceber após várias tentativas de IIU, ou quando são necessários diagnósticos genéticos pré-implantacionais. Veja o passo a passo da FIV:

  1. Estimulação Ovariana

O processo começa com a estimulação ovariana, onde medicamentos de fertilidade são administrados à mulher para estimular os ovários a produzir múltiplos óvulos. Este passo é crucial, pois aumenta as chances de obter óvulos viáveis para fertilização. Durante este período, o desenvolvimento folicular é monitorado por ultrassonografia transvaginal e exames de sangue, ajustando a dosagem dos medicamentos conforme necessário.

  1. Coleta de Óvulos

Uma vez que os folículos atinjam um tamanho ótimo, é administrada uma injeção de hCG (gonadotrofina coriônica humana) para induzir a maturação final dos óvulos. Cerca de 34 a 36 horas após essa injeção, os óvulos são coletados por meio de uma punção ovariana, guiada por ultrassom. Este procedimento é realizado sob sedação ou anestesia leve para minimizar o desconforto.

  1. Coleta de Espermatozoides

Paralelamente, é coletada uma amostra de sêmen do parceiro ou de um doador. Os espermatozoides são preparados em laboratório, selecionando-se os mais móveis e viáveis para a fertilização dos óvulos.

  1. Fertilização

Os óvulos coletados são colocados em uma placa de cultura junto com os espermatozoides preparados. Em casos de baixa motilidade espermática ou outras questões de fertilidade, pode ser utilizada a injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI), onde um único espermatozoide é injetado diretamente em cada óvulo para facilitar a fertilização.

  1. Cultura de Embriões

Os óvulos fertilizados, agora embriões, são mantidos em incubadoras que mimetizam as condições do corpo humano. Eles são monitorados por vários dias para avaliar seu desenvolvimento. Durante este período, pode-se realizar o diagnóstico genético pré-implantacional (DGP) para detectar possíveis anomalias genéticas. A transferência embrionária ocorre, em geral, no D3 ou D5 de evolução do embrião.

  1. Transferência de Embriões

Dependendo do desenvolvimento dos embriões e da saúde da mulher, um ou mais embriões são selecionados para transferência. A transferência é realizada com um cateter fino inserido através do colo do útero para depositar os embriões no útero. Este procedimento é geralmente indolor e não requer anestesia.

  1. Suporte à Fase Lútea

Após a transferência, é administrada progesterona para apoiar o revestimento uterino e aumentar as chances de implantação do embrião. Cerca de duas semanas após a transferência, são realizados testes de gravidez para determinar o sucesso do procedimento.

  1. Acompanhamento

Em caso de resultado positivo, o acompanhamento inicial da gravidez é realizado através de exames de sangue e ultrassonografias. Em caso de resultado negativo, o casal é aconselhado sobre as próximas etapas, que podem incluir uma nova tentativa de FIV ou outras alternativas.

Cada etapa da FIV é meticulosamente planejada e monitorada para maximizar as chances de sucesso. Embora o processo possa ser emocionalmente e fisicamente exigente para o casal, os avanços tecnológicos e as estratégias personalizadas de tratamento continuam a melhorar as taxas de sucesso e as experiências dos pacientes nesta jornada para a paternidade.

Comparativo entre IIU e FIV

Taxas de Sucesso: Embora as taxas de sucesso variem amplamente de acordo com fatores individuais, de modo geral, a FIV tende a apresentar taxas de sucesso por ciclo superiores às da IIU, especialmente em casos mais complexos de infertilidade.

Invasividade e Riscos: A IIU é menos invasiva e apresenta menos riscos, como a síndrome de hiperestimulação ovariana, que pode ocorrer com a FIV devido à necessidade de estimulação ovariana intensiva.

Custo: A FIV é significativamente mais cara em comparação à IIU, devido à sua complexidade técnica e necessidade de recursos laboratoriais avançados.

Indicações Clínicas: A escolha entre IIU e FIV depende amplamente das causas subjacentes da infertilidade, idade da mulher, histórico de infertilidade e preferências do casal.

A decisão entre inseminação intrauterina e fertilização in vitro deve ser meticulosamente ponderada, levando em consideração as especificidades clínicas do casal, suas expectativas e as taxas de sucesso associadas a cada método. A medicina reprodutiva continua a evoluir, oferecendo esperança e possibilidades para muitos casais enfrentando desafios de infertilidade. Como profissionais de saúde, nosso papel é fornecer orientação baseada em evidências, suporte emocional e clareza no vasto campo das tecnologias de reprodução assistida, assegurando que cada casal faça a escolha mais informada e adequada à sua jornada para a paternidade.

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Fabiano Serra

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