Anticoncepcional Anticoncepcional para menor de idade Prescrição de anticoncepcional

Posso prescrever anticoncepcional para menor de idade desacompanhada do responsável legal?

Escrito por Marina Braga

Uma situação que pode ocorrer no consultório médico, principalmente nos consultórios de ginecologistas, é uma paciente menor de idade com o desejo de iniciar anticoncepcional, relatando início de atividade sexual. Chega no consultório sozinha e com essa demanda específica. Mas e aí, como abordar? 

Um fator importante é avaliar com essa paciente o quanto ela entende sobre o que está acontecendo e sobre relação sexual, bem como o seu entendimento e desejos acerca dos métodos anticoncepcionais. Após realizar esse acolhimento e tentar entender a paciente e sua demanda, a resposta é: sim. Se o profissional julgar que a paciente está coerente após uma conversa inicial, a prescrição é autorizada e não há nenhuma necessidade de informação ao responsável legal. 

É bom lembrar que, após essa conversa inicial e definido que ela está apta a receber a prescrição, deve-se aproveitar a oportunidade para conversar com a paciente sobre outros desdobramentos da atividade sexual, como as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e possíveis métodos protetivos. É o momento para abordar sobre os preservativos e sobre as ISTs, falando sobre as diversas infecções e as determinadas prevalências. Além disso, é importante checar com a paciente sobre a atualização do cartão vacinal e verificar se tomou todas as vacinas indicadas. 

Mas o que acontece se a(o) responsável legal ir ao consultório e desejar saber sobre o motivo da consulta e o que foi conversado, como conduzir?

Nesses casos, é importante lembrar dos pilares da ética médica e, dentre eles, um princípio importante nessa ocasião é o da autonomia, que tem relação com o sigilo médico. Assim, não há necessidade de revelar para o responsável legal. 

E se o responsável legal perguntar sobre a virgindade da filha? 

Mais uma vez, lembramos do sigilo médico e que não há necessidade de revelar quaisquer informações que a paciente não deseja. Orientar a(o) responsável legal que, caso haja necessidade de tal informação, converse diretamente com a paciente.

As orientações para a paciente devem ser esclarecidas e ofertadas de uma maneira que a paciente consiga compreender, e não de forma metódica e com linguagem técnica. É importante que o profissional consiga fazer com que a compreensão seja efetiva. Após a conversa inicial e sentindo que a paciente está apta a receber o método contraceptivo, o próximo passo é entender quais são os métodos mais indicados. Nesse quesito, faz-se necessário explicar para a paciente sobre todos os métodos anticoncepcionais: preservativos, métodos de barreira, métodos intrauterinos e métodos hormonais e não hormonais, DIU hormonal, DIU não hormonal, pílula somente de progestogênio, anel vaginal, adesivo transdérmico, implante de etonogestrel, injetável mensal e trimestral. A OMS tem recomendado que, para adolescentes, seja prescrito métodos de longa duração que são reversíveis, pois há trabalhos mostrando que as adolescentes são as pacientes que mais esquecem de tomar o anticoncepcional. Assim, os métodos de longa duração (conhecidos com LARC – Long acting reversible contraception) são mais indicados para adolescentes, porém é necessário oferecer todos os métodos, conversar sobre as melhores indicações, mas deixar que a paciente escolha o método – exceto se houver contraindicação. Essa é uma decisão compartilhada, dando à paciente o poder de escolha e trabalhando para o empoderamento da paciente. 

Em relação ao DIU: adolescente pode fazer uso? 

A resposta é sim, pode. A medicina baseada em evidência mostra que não há contraindicação do uso de DIU pelo fato de ser adolescente.

Paciente que nunca teve penetração vaginal, ela pode optar por utilizar o DIU?

Para essa abordagem é importante que o profissional tenha feito uma boa relação profissional-paciente, para que haja liberdade da adolescente em expor suas dúvidas, angústias e desejos. E, para além disso, é importante que haja o entendimento da adolescente, nesse caso, sobre seu conceito de virgindade. A partir disso, o profissional irá conduzir a conversa sobre sua escolha. Esse entendimento é necessário, pois o profissional deve explicar que a colocação do DIU irá romper o hímen da paciente. Essa explicação abrange fatores culturais porque se o rompimento do hímen, no entendimento dela, é um fator importante e deve ser feito por uma relação sexual, então esse método deve ser evitado. Porém, se a paciente relatar que não é um fator importante para ela e a decisão está coerente com o entendimento da mesma, não há contraindicação para não realizar. Para os profissionais de saúde que forem realizar esse procedimento, em casos como esse, deve haver o esclarecimento para a paciente sobre essa questão do hímen e o profissional deve informar sobre o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que deverá ser preenchido e assinado pela paciente, informando o procedimento em que a paciente será submetida e que a mesma está ciente que uma das consequências imediatas é o rompimento do hímen. 

O que são os LARC (Long acting reversible contraception) e quais são os disponíveis no mercado nacional ?
O que está disponível no mercado nacional é o DIU de cobre, DIU hormonal (levonorgestrel) e o implante subdérmico – colocado na face medial do braço não dominante e que contém apenas progesterona, que é liberada na circulação sanguínea e tem duração de até 3 anos. 

Em relação ao implante de etonogestrel, que é ofertado mais comumente na Europa, como abordar se a paciente chega no consultório com esse desejo? 

Alguns pacientes chegam com essa demanda e determinam esse implante denominando como “chip”. Essa, porém, é uma confusão encabeçada pelo marketing. É importante esclarecer que trata-se de um implante com progesterona (etonogestrel). 

Uma outra questão comum no consultório sobre anticoncepção é sobre quando há esquecimento da tomada de uma ou duas pílulas, o que deve ser orientado? 

A orientação nesse caso é tomar no momento que você lembrou. Uma orientação técnica, entretanto, é que aqueles que possuem 35 µg de etinilestradiol possuem uma margem um pouco maior para casos de esquecimento. Caso a paciente esqueça de tomar por 3 dias seguidos a concentração e a eficácia diminuem a ponto de apresentar maior risco e, nesse caso, deve-se indicar o preservativo. E caso haja relação sexual nos últimos 7 dias, deve-se avaliar o uso da anticoncepção de emergência. Nos métodos com concentração menor, como 20 e 15 µg, a indicação é tomar as pílulas que faltaram no momento que lembrar. A tolerância para esses casos é de até 48 horas. Caso haja quaisquer dúvidas sobre a orientação ou após relação sexual desprotegida, é importante orientar sobre a contracepção de emergência, que é levonorgestrel 1 mg via oral, que é uma progesterona. Porém, se houver dúvidas, é melhor prescrever. 

Como orientar as adolescentes quando há sangramento de escape, utilizando métodos anticoncepcionais? 

A pílula anticoncepcional é um combinado de progesterona que é necessário para inibir a ovulação e estrogênio, com objetivo de proliferar o endométrio para que não tenha sangramentos no período de tomada e tenha o sangramento apenas no período de pausa. Se a paciente tem escape, é mais comum de acontecer com a dose de estrogênio baixa entre 20 e 15 µg, porque a dosagem é baixa e quase não têm capacidade de proliferar o endométrio. É importante afastar a dúvida e a relação que muitos pacientes fazem que o escape é decorrência da perda do efeito da pílula, e isso não é verdade. O bloqueio da ovulação está acontecendo, porém com a dosagem mais baixa o estrogênio irá proliferar muito pouco o endométrio. Se, após essa explicação, a paciente entender que é decorrência do método, a indicação é manter. Porém, se ela queixa que é um incômodo e que não gosta de ter esses escapes, é necessário aumentar a dosagem do estrogênio – com objetivo de proferir um pouco mais do endométrio. 

Existe algum tipo de contraindicação absoluta de pílula anticoncepcional oral combinada que devemos ter cautela? 

A OMS possui um guideline e inclusive há um aplicativo da Organização que aborda os critérios de elegibilidade da paciente para os métodos. As contraindicações para utilizar são:  

  • hipertensa
  • tabagista com mais do que 35 anos
  • história pregressa de trombose ou de trombofilia, não deverá usar anticoncepcional com estrogênio
  • enxaqueca com aura – pois predispõe a AVE
  • enxaqueca sem aura não pode utilizar anticoncepção a partir de 35 anos

Como abordar o desejo de contracepção em uma adolescente que tem história pregressa de trombose venosa profunda ou tem algum desses fatores de risco?

A contraindicação dos métodos combinados (progesterona e estrogênio) é para quem teve história de trombose ou tem trombofilia. É importante orientar que para essas contraindicações, a paciente não deve utilizar os métodos combinados devido a ação do estrogênio – que aumenta o risco de trombose. Assim, pode-se indicar métodos que possuem apenas a progesterona. As indicações mais comuns são: 

  • injetável trimestral (que contém apenas progesterona)
  • pílulas de progesterona isolada
  • implante de etonogestrel
  • DIU de cobre e DIU HORMONAL

É importante lembrar que o próprio ciclo gravídico puerperal – devido às alterações fisiológicas, como aumento dos fatores pró-coagulantes e diminuição do sistema fibrinolítico – é mais arriscado para se desenvolver uma trombose do que os métodos anticoncepcionais. A própria fisiologia da gestação aumenta em 16x o risco de ter um fenômeno tromboembólico. 

Transcrição: Diogo Henrique

Curso Pedpapers

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