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Preservação da fertilidade

Escrito por Jader Burtet

Com o avanço das técnicas do tratamento oncológico, postergação da maternidade, doenças autoimunes com tratamento a base de imunossupressores, doenças genéticas, endometriose as mulheres hoje podem realizar o aconselhamento reprodutivo, a fim de preservar a fertilidade. Há inúmeras técnicas estabelecidas como congelamento de óvulos, embriões, tecido ovariano, maturação in vitro, análogos de GnRH, cirurgia de transposição ovariana e cirurgias ginecológicas conservadoras. 

O congelamento de óvulos é indicado em pacientes com diminuição da reserva ovariana, seja por postergação da maternidade – uma vez que há uma queda acentuada da reserva ovariana após 35 anos –, ou em razão de outras doenças. Pacientes com doenças crônicas de origem reumática, síndrome de Turner e mutação do gene BRCA podem ser aconselhadas à criopreservação, uma vez que são situações sabidamente associadas à diminuição da reserva ovariana. 

Nas portadoras da mutação BRCA, há estudos que sugerem um envelhecimento ovariano precoce. Alguns sugerem que o hormônio antimülleriano é 25% menor nessa população, em relação a geral. Além disso, dado os possíveis acúmulos de danos ao DNA nos oócitos, essas mulheres têm maior probabilidade de perder a reserva ovariana após tratamento de câncer. Assim, para essas pacientes há indicação de avaliação de reserva associada ao aconselhamento sobre gestação ou opção de preservação de fertilidade. 

Tanto nas pacientes que irão realizar o congelamento de óvulos, quanto nas que irão realizar o congelamento de embrião, devem ser realizados ciclos de estimulação ovariana e recuperação de oócitos. 

No congelamento de embriões, pode ser realizado conforme as mesmas indicações e similarmente à fertilização, mas sem realizar a transferência do embrião ao útero, prosseguindo para a criopreservação do embrião. 

Na criopreservação – seja ela de tecido ovariano, oócitos ou embrião –, não há prazo para o armazenamento, mas sabe-se que quando se utiliza o congelamento lento, os embriões sobrevivem melhor ao processo que os oócitos não fertilizados. Já na vitrificação, essa taxa é similar entre os dois. 

Mulheres com risco de insuficiência ovariana prematura como Síndrome de Turner, galactosemia, doença reumática e câncer, podem realizar o congelamento de tecido ovariano. Ainda experimental em alguns países, mulheres abaixo de 35 anos com chance de sobrevida maior que 5 anos e mais da metade de chance de insuficiência ovariana prematura são candidatas à essa técnica. 

O uso do análogo de GnRH é indicado em pacientes que irão ser submetidas à quimioterapia, pois, devido à supressão ovariana temporária e hipoestrogenismo intenso, há uma diminuição da circulação ovariana, reduzindo a exposição desse tecido à toxicidade da quimioterapia. Essa é uma técnica que necessita de maiores comprovações de efetividade, embora haja vários estudos. 

Na transposição ovariana, a indicação é de pacientes que irão se submeter à radiação pélvica. Retira-se, dessa forma, o tecido ovariano do foco da radiação implantando-o em outro local. Pode-se também optar pela criopreservação do ovário e pedículo para diminuir o grau de perda folicular, mas essa técnica ainda permanece em estudo. 

REFERÊNCIAS:

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