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Quais os tratamentos farmacológicos para Mastalgia?

Escrito por Jader Burtet

A mastalgia representa a dor nas mamas e faz parte do conjunto de doenças benignas mamárias, sendo muito comum em mulheres, em especial durante a menacma, com caráter autolimitado e raramente se associa ao câncer de mama, embora este diagnóstico deva ser sempre excluído a partir de uma investigação minuciosa.

É grande o número de mulheres que procura atendimento médico queixando-se de mastalgia, impulsionadas pelo medo de o sintoma estar associado a um câncer subjacente. Por isso, é indispensável a orientação das pacientes que referem tal queixa, já que muitas costumam melhorar após receber as devidas orientações.

Por se tratar de uma queixa que impacta na qualidade de vida das mulheres, é importante compreender seu tratamento. Para isso, é importante compreender sua classificação:

  • Mastalgia cíclica: presente durante o período perimenstrual e, em alguns casos, durante todo o ciclo. Normalmente associada à turgidez mamária;

  • Mastalgia acíclica: não correlacionada ao período menstrual, em geral, de caráter contínuo.

Segundo Menke e Delazeri, em uma revisão sistemática publicada em 2009, o tratamento clínico não farmacológico é capaz de superar a mastalgia entre 78 e 85% dos casos. Por outro lado, de 10 a 22% das pacientes irão necessitar de medidas farmacológicas para controle sintomático. 

Diante do advento da medicina baseada em evidências, podemos dividir as possibilidades terapêuticas para mastalgia em duas categorias:

  • Medicações utilizadas no dia a dia, sem evidência científica: alguns exemplos são a vitamina E, o ácido gamalinoleico, o óleo de prímula, o óleo de borragem, anti-inflamatórios não esteroidais, ansiolíticos, analgésicos. Alguns pacientes costumam referir melhora da mastalgia, mas estudos controlados realizados com tais medicamentos não mostraram significância, indicando que funcionam como um placebo. Devido à complexidade do manejo da mastalgia, recomenda-se manter o uso desses medicamentos nas pacientes que referem melhora.

Entre os fitoterápicos, representa uma novidade o estudo controlado, duplo-cego e randomizado realizado por Saghafi e colaboradores (2018), que comprovaram o uso do extrato de camomila (n=30) versus placebo  (n=30) no manejo da mastalgia, avaliando 60 pacientes por 8 semanas. Após 2 meses, foi visto redução significativa da dor mamária, tanto ao comparar ambos os grupos, camomila e placebo, com o período pré-intervenção (p < 0,0001 e p = 0,048, em ordem), como ao comparar os grupos entre si (p = 0,007), confirmando cientificamente a superioridade da camomila ao placebo no manejo da dor, sendo uma alternativa segura e com poucos efeitos adversos associados.

  • Medicações com eficácia comprovada cientificamente, mas com efeitos colaterais:
    • Tamoxifeno: Agonista Parcial do Estrogênio (SERM), medicamento usado primordialmente para bloqueio hormonal em pacientes com câncer de mama, mas testado em pacientes com mastalgia refratária havendo resposta positiva. Posologia: 10 mg/dia, via oral, de 3 a 6 meses. Um ponto negativo importante é que seu uso deve ser contínuo, aumentando os riscos de eventos tromboembólicos, hiperplasia endometrial e outras consequências intrínsecas a ele;

Bromocriptina: fármaco inibidor da prolactina. Útil no tratamento da mastalgia cíclica, porém ineficaz no manejo da mastalgia acíclica. Os principais efeitos adversos associados ao seu uso são náuseas e vertigem;

  • Danazol: esteroide sintético de baixa intensidade, eficaz no tratamento da mastalgia, em doses entre 200 e 400 mg/dia. Alguns efeitos colaterais ao seu uso são: desregulação do ciclo menstrual, cefaleia, redução da mama e ganho de peso;

  • Gosserrelina: análogo do liberador de Hormônio Luteinizante (LH). Apresenta resultado favorável no tratamento da mastalgia quando comparado ao placebo. Possíveis efeitos adversos advindos dessa terapia são: redução do tamanho mamário, fogachos e ressecamento da mucosa vaginal.

Assim, o manejo tradicional da mastalgia deve incluir orientações gerais à paciente, como prática de exercícios físicos, preferência por sutiãs esportivos, mudança dietética, bem como uso de fármacos comparáveis ao placebo. Quando ainda assim não for possível o controle da dor e ela se torna incapacitante, o uso do tamoxifeno e outras medicações pode ser uma alternativa, desde que a paciente seja bem selecionada e avaliado o risco-benefício.

Referências Bibliográficas

ELSHERIF, Ayat; VALENTE, Stephanie. Management of Mastalgia. Surgical Clinics of North America, v. 102, n. 6, 2022. p. 929-946. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.suc.2022.06.001. Acesso em: 30 out. 2023.

MENKE, Carlos Henrique; DELAZERI, Gerson Jacob. Dor mamária: propedêutica e terapêutica. Femina, v. 37, n. 12, 2009, p. 661-666. Disponível em: http://files.bvs.br/upload/S/0100-7254/2009/v37n12/a004.pdf. Acesso em: 30 out. 2023. 

SAGHAFI, N. et al. Effectiveness of Matricaria chamomilla (chamomile) extract on pain control of cyclic mastalgia: a double-blind randomised controlled trial. Journal of Obstetrics and Gynaecology, v. 38, n. 1, 2018, p. 81-84. Disponível em: https://doi.org/10.1080/01443615.2017.1322045. Acesso em: 30 out. 2023. 

SINHA, Mithilesh Kumar et al. Tamoxifen in Mastalgia: A Meta-Analysis. Journal of Obstetrics and Gynaecology Canada, v. 44, n. 10, 2022, p. 1084-1094. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.jogc.2022.06.006. Acesso em: 30 out. 2023.

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