Diagnóstico Tratamento

Rastreio de Clamídia

Escrito por Jader Burtet

A infecção por Chlamydia trachomatis é uma das infecções bacterianas mais comuns entre as sexualmente transmissíveis. Essa bactéria pode ocasionar conjuntivite, pneumonia em neonatos quando nascidos de mães infectadas, linfogranuloma venéreo (LGV), doença inflamatória pélvica (DIP), dor pélvica crônica e infertilidade. No entanto, na maioria das vezes é assintomática, o que dificulta o diagnóstico. 

Dessa forma, a investigação deste patógeno é indicada em pessoas sexualmente ativas com sintomas sugestivos de infecção por clamídia. Nas assintomáticas, é indicado o teste de ácido nucleico (NAAT), também em pacientes com alto risco de infecção e complicação por clamídia. 

As consequências da clamídia ocorrem, geralmente, devido à alteração da resposta imunológica, que permanece ainda que a paciente já não apresente mais infecção ativa. Isso ocorre por meio de HSP60 (heat schock protein), proteína responsável por fazer o sistema imune formar anticorpos. Isso, muito provavelmente, também está associado a abortamento de repetição, quando causado por infecção subclínica desse patógeno. 

Nas assintomáticas com menos de 25 anos, é indicada a testagem anual para clamídia; em pacientes acima de 25 anos, é indicada somente naquelas que apresentem comportamento de risco. Nas mulheres que possuem o vírus HIV e gonorreia, é indicada a testagem anual. 

Em pacientes que já realizaram tratamento prévio para clamídia, é indicada nova testagem após 3 meses do tratamento.

Pacientes expostas a situações de vulnerabilidade, como violência sexual ou ato sexual desprotegido, não se faz necessário teste diagnóstico, é indicado já o tratamento. 

O teste para clamídia considerado padrão-ouro é o de amplificação de ácidos nucleicos (NAAT), em que há uma amplificação da sequência de DNA ou RNA, que são sensíveis e específicos. Esse teste pode ser realizado durante a avaliação do citopatológico, em que se pode realizar swab endocervical ou amostra de urina, que é 10% menos sensível que o swab. 

Nas pacientes com suspeita de infecção urinária por clamídia, a coleta no exame de urina é a preferência, mas a opção de swab uretral também é uma escolha. Os swabs utilizados devem ser STM (Qiagen®), SurePath vial (BD®) e ThinPrep vial (Hologic®), pois outros materiais podem inibir o crescimento do micro-organismo. Assim, a solicitação deve ser realizada por meio da solicitação de pesquisa de clamídia por PCR ou por captura híbrida, sendo o resultado positivo ou negativo. 

Contudo, a cultura para investigação de clamídia possui elevado custo, sendo limitada a laboratórios de pesquisa. As sorologias, principalmente se acima de 1:64, associadas à clínica, podem auxiliar no diagnóstico, embora não haja indicação para esse tipo de testagem, já que não é específico em relação à espécie, além de ser pouco útil na diferenciação de doença vigente ou antiga. Seus resultados, porém, requerem um laboratório treinado para realização. O antígeno pode ser realizado da mesma maneira que se faz o swab do colo para PCR. 

Entretanto, o rastreio na população assintomática não possui evidência de taxa reduzida de clamídia a longo prazo. Assim, o rastreio deve ser pautado com base no comportamento e exposição sexual. 

Dessa forma, o tratamento dessas pacientes visa a prevenção da doença inflamatória pélvica, infertilidade, gestação ectópica, diminuição da infecção de parcerias e prevenir reinfecção. É indicação de tratamento, pacientes sintomáticas como cervicite, DIP, uretrite, exposição suposta (exemplo, casos de abuso) e nas que possuem suspeita com exame positivo. O tratamento de primeira escolha é a doxiciclina 100 mg 2 vezes ao dia por 7 dias. A azitromicina em dose única não possui uma eficácia tão grande, sendo considerada uma opção alternativa em pacientes com má adesão e em gestantes. Outros regimes podem ser utilizados, mas também são de segunda escolha como levofloxacino 500 mg (1 vez ao dia por 7 dias) ou amoxicilina, embora com eficácia muito inferior.

REFERÊNCIAS:

CHERNESKY, Max et al. Self-collected swabs of the urinary meatus diagnose more Chlamydia trachomatis and Neisseria gonorrhoeae infections than first catch urine from men. Sexually transmitted infections, v. 89, n. 2, 2013, p. 102-104. Acesso em: https://doi.org/10.1136/sextrans-2012-050573. Acesso em: 06 set. 2023.

U.S. DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES. Centers for Disease Control and Prevention. Sexually Transmitted Disease Surveillance 2019. 2021. Disponível em: https://www.cdc.gov/std/statistics/2019/std-surveillance-2019.pdf. Acesso em: 06 set. 2023.

US PREVENTIVE SERVICES TASK FORCE et al. Screening for Chlamydia and Gonorrhea: US Preventive Services Task Force Recommendation Statement. JAMA, v. 326, n. 10, 2021, p. 949-956. Disponível em: https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2784136. Acesso em:  06 set. 2023.

WORKOWSKI, Kimberly et al. Sexually Transmitted Infections Treatment Guidelines, 2021. MMWR Recommendations and Reports, v. 70, n. 1, 2021, p. 1-187. Disponível em: https://doi.org/10.15585/mmwr.rr7004a1. Acesso em: 06 set. 2023.

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Jader Burtet

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