Consultório Tratamento

Reserva Ovariana

Escrito por Jader Burtet

Sabe-se que, atualmente, a maternidade tem sido postergada por muitas mulheres. Assim, faz-se necessária atenção aos oócitos viáveis da paciente. Os oócitos possuem um número e qualidade decrescente ao longo da vida. Na vigésima semana de gestação, há um número aproximado de 6 a 7 milhões de folículos primordiais e, a partir desse marco, há uma diminuição rápida folicular. Ao nascer, o número desses folículos cai para 1 a 2 milhões de oócitos. Isso ocorre por uma complexa expressão de genes e síntese de moléculas controladoras do crescimento associada à apoptose e à necrose celular. 

Na adolescência, ao ocorrer a menacme, a mulher possui cerca de 300 a 400 mil, totalizando uma perda de mil a mais de dois mil oócitos por mês até esse momento. Depois, há uma perda de até mil óvulos por mês, sendo esse número inalterado pela gravidez ou uso de contraceptivos, seja ele de qualquer espécie. 

Associado a essa perda, sabe-se que a qualidade dos óvulos também decresce com o tempo, tendo como consequência a diminuição da taxa de gravidez e aumentando o número de abortamentos conforme o envelhecer. 

Quando uma mulher decide engravidar pode ser ofertada a pesquisa da reserva ovariana a partir dos 30 anos, mas sem consenso da investigação em mulheres que não desejam engravidar. 

Os ciclos menstruais regulares podem predizer uma reserva adequada, sendo assim, ciclos frequentes são capazes de ser consequência de diminuição da reserva ovariana. Isso ocorre devido à alteração na fase folicular ou anormalidade da fase lútea que ocorre, como marco, a ovulação. Fatores de risco incluem uso de quimioterápicos, cirurgias ovarianas prévias. 

Em qualquer momento do ciclo menstrual, é possível dosar o hormônio antimulleriano (HAM), mas ciente de que é um método pouco preciso. O hormônio é expresso pelos folículos pré-antrais, e sua associação com a reserva ovariana se dá, pois pode refletir o tamanho do pool de folículos primordiais encontrados no ovário da paciente. Está mais associado ao processo de declínio da função ovariana, sendo indetectável na pós-menopausa, e seu melhor uso clínico está na predisposição à resposta ovariana na indução da ovulação, tendo pouca precisão ao se correlacionar com taxas de nascidos vivos. É útil também na avaliação de pacientes com fator de risco de perda de função ovariana, como em pacientes com cirurgia ovariana prévia ou submetidas à radiação. Sua aplicabilidade, entretanto, não prediz o futuro potencial de fertilidade em pacientes sem queixas de infertilidade

 Além disso, pode ser avaliado, entre o terceiro e quinto dia do ciclo menstrual, a dosagem do hormônio folículo estimulante (FSH), mas atenção aos níveis flutuantes desse hormônio. O FSH é considerado normal nessa fase quando menor que 10 mUi/mL, uma vez que interpreta que pequenos folículos no início do ciclo são capazes de produzir estrogênio suficiente para inibir a produção desse hormônio. É possível ser realizado em conjunto com os níveis séricos de estradiol. Foi observado que níveis basais muito elevados de estradiol podem ser consequência do recrutamento folicular prematuro, que ocorre em mulheres com baixa reserva ovariana. Assim, esses níveis altos de estradiol ocasionam a inibição hipofisária de FSH. Dessa forma, a associação em conjunto de estradiol e FSH pode ser útil em testes falso negativos de FSH.

Associado a esses testes, a ovulação ocasiona aumento dos níveis séricos de progesterona, assim, ao avaliar o nível sérico desse hormônio, cerca de 07 dias antes da menstruação, pode ser sinal de ovulação recente. 

Também pode ser realizada biópsia de endométrio para detecção de alterações endometriais típicas do período ovulatório, mas trata-se de uma medida invasiva e com alto custo. Esse exame, dessa forma, não é rotineiramente solicitado. 

Além disso, é possível ser considerada a avaliação da contagem dos folículos antrais realizada entre o terceiro e quinto dia do ciclo menstrual. Avalia-se o tamanho dos folículos, entre 2 a 10 mm, mas isso pode ser influenciado pela experiência do avaliador e ecógrafo utilizado. Esse exame, no entanto, possui maior precisão ante aos demais para documentar a ovulação.

Importante saber que nenhum teste acima descrito é altamente confiável. 

O congelamento de óvulos pode ser uma alternativa para a mulher com desejo de postergar a maternidade. Tal procedimento possui maior sucesso se realizado antes dos 35 anos, mas sabe-se que mais de 70% da indução para congelamento foi feito em mulheres após essa idade. 

REFERÊNCIAS: 

  1. MEDEIROS, Sebastião Freitas, et al. Dinâmica do consumo dos folículos ovarianos ao longo da vida – Importância clínica para o ginecologista. Femina. n.1 v. 51, p. 22-24, 2023.
  2. WATHEN, N. C. et al. Interpretation of single progesterone measurement in diagnosis of anovulation and defective luteal phase: observations on analysis of the normal range. Br Med J (Clin Res Ed), v. 288, n. 6410, p. 7-9, 1984.
  3. ECOCHARD, René et al. Chronological aspects of ultrasonic, hormonal, and other indirect indices of ovulation. British Journal of Obstetrics and Gynaecology, v. 108, n. 8, p. 822-829, 2001.
  4. ECOCHARD, René et al. Chronological aspects of ultrasonic, hormonal, and other indirect indices of ovulation. British Journal of Obstetrics and Gynaecology, v. 108, n. 8, p. 822-829, 2001.
  5. SMOTRICH, David B. et al. Prognostic value of day 3 estradiol on in vitro fertilization outcome. Fertility and sterility, v. 64, n. 6, p. 1136-1140, 1995.
  6. SOUTER, Irene et al. Elevated day 3 follicle-stimulating hormone in younger women: is gonadotropin stimulation/intrauterine insemination a good option?. American journal of obstetrics and gynecology, v. 211, n. 1, p. 62. e1-62. e8, 2014..
  7. DEWAILLY, Didier et al. The physiology and clinical utility of anti-Müllerian hormone in women. Human reproduction update, v. 20, n. 3, p. 370-385, 2014.
  8. NARDO, Luciano G. et al. Circulating basal anti-Müllerian hormone levels as predictor of ovarian response in women undergoing ovarian stimulation for in vitro fertilization. Fertility and sterility, v. 92, n. 5, p. 1586-1593, 2009.
  9. BROER, S. L. et al. AMH and AFC as predictors of excessive response in controlled ovarian hyperstimulation: a meta-analysis. Human reproduction update, v. 17, n. 1, p. 46-54, 2011.
  10. ILIODROMITI, Stamatina et al. The predictive accuracy of anti-Müllerian hormone for live birth after assisted conception: a systematic review and meta-analysis of the literature. Human reproduction update, v. 20, n. 4, p. 560-570, 2014.
  11. STEINER, Anne Z. et al. Association between biomarkers of ovarian reserve and infertility among older women of reproductive age. Jama, v. 318, n. 14, p. 1367-1376, 2017.
  12. ACOG Committee Opinion No. 773 Summary: The Use of Antimüllerian Hormone in Women Not Seeking Fertility Care. Obstet Gynecol., v. 133, n. 4, p. 840-841, Abr. 2019. doi: 10.1097/AOG.0000000000003163

Curso Pedpapers

Deixe um comentário

Sobre o autor

Jader Burtet

1 comentário

Deixe um comentário

Seja parceiro do GOPapers. Conheça os pacotes de anúncios e divulgações em nosso MídiaKit.

Anunciar no site